Enquanto espero na fila de uma caixa multibanco observo. Uma mãe jovem, com trinta, se calhar menos. Uma filha recente, com três, quatro anos, no máximo. A progenitora, sem largar a mão da cria, escolhe o tema levantamentos e seleciona a categoria dos sessenta euros. A máquina nega-lhe a intenção. O cartão sai de mãos dadas com duas ou três lágrimas. Pede à filha para andar. Evita explicações, tem plateia. A pequena, de olho arregalado, pergunta se a máquina está "istagada". A mãe diz-lhe que sim, que está "istagada". E seguem, com duas mãos dadas e outras duas a abanar. Está assim este nosso Portugal.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Esse mal chamado cancro
Uma
epidemia.
Quem, nos
dias que correm, não tem “alguém” com cancro? Um familiar, um amigo, um
conhecido. Todos temos. Esta verdade gelada não merece discussão, é um dado
adquirido. O cancro é parte integrante das nossas vidas. Hoje, por exemplo, o
mundo inteiro sabe do que se trata a expressão “está a fazer tratamento”. Isso
é mau sinal. Tão mau sinal. Esse sinónimo de banalidade é assustador. Essa
linguagem faz parte do nosso quotidiano. E nós nem conta damos. Esse mal entrou
nas nossas vidas em bicas de pés, para não nos acordar, e anda de olhos
vendados para não encontrar a porta de saída.
Não
escolhe sexo, nem idades, nem carteiras. Pode acontecer a todos. Mentalizem-se
disso, mesmo os fiéis seguidores do “só acontece aos outros”. Infelizmente
todos nós estamos sujeitos a carregar esta cruz. Outra coisa, podem apontar,
esta luta não se resume ao doente, espalha-se por todos os que o amam. Nunca
duvidem disso. É uma bomba que cai numa casa, que destrói uma família, que
arrasta pelas ruas da dor todos os que partilham sentimentos nobres, para além
do doente, que esse, coitado, anda puxado pelos cabelos em paralelos afiados
pelo pior dos sofrimentos, físico e psicológico. Sim, nem todo o sofrimento do
doente cancerígeno se vê, a maior parte é silencioso, vive na cabeça do
portador do mal.
Aos
doentes fica a esperança, que tem que ser sublinhada, de sucesso. São cada vez
mais os que vencem esta batalha. O cancro não é imbatível. A medicina, os seus
praticantes, o doente e os seus familiares, todos juntos, são capazes de
verdadeiros milagres. Acreditem. O querer viver é a base do sucesso. Falar é
fácil, eu sei, mas nunca desistam, nem mesmo nos momentos em que tudo à volta é
escuro como breu. Não é fácil, é verdade, mas não ser fácil é bem diferente de
ser impossível.
Aos que
sofrem tanto como o doente, não no corpo, mas na mente, pede-se uma presença
constante, uma mão dada com todos os minutos de amargura. Sozinho o doente é
presa fácil, com os que o amam por perto a luta fica meia ganha. Apontem nas
vossas notas mentais que nunca uma guerra foi vencida por um homem só. Sejam o
exército do general acamado. Lutem, tanto ou mais que ele. Lutem até tocarem no
peito da vitória, aí parem, abracem-se e desfrutem do sabor da conquista.
O cancro
é assustador, tem uma força indescritível, mas há coisa que nunca terá. O
brilho da vida! Por muito grande que seja a doença, nunca será do tamanho da
vida. Lembrem-se sempre.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Ensino Superior
Lembro-me
como se fosse hoje e já tantos anos passaram por cima daquele primeiro dia
assustado. Não conhecia nada nem ninguém. Sozinho numa cidade que não era a
minha. Longe do conforto da minha casa. Distante, tão distante, dos cuidados
dos meus pais. Comigo só tinha uma certeza, o curso. Era aquele. Sempre foi.
Direito!
Eu, ao
contrário de muitos, queria ter ficado na minha terrinha, mesmo sabendo que
isso não era sequer opção. Sempre fui pouco aventureiro. Não queria ruas, nem gentes
que eu não conhecia. Obrigado a isso, lá fui, temeroso e de malas feitas para a
cidade Invicta.
O caloiro
atravessou os portões da universidade de olhos postos em tudo, tendo como
principal objetivo passar despercebido. Coisa difícil para quem é novato. Devia
sentir-se ao longe o cheiro de estreante, mesmo que este fosse de jornal
dobrado, metido por baixo do braço, a dar um ar de homem adulto e batido. O
sossego durou trinta minutos. Os “doutores” interpelaram-me e deram início à
minha praxe. Bastante tranquila por sinal. Aceitei-a de braços abertos, usei-a
para conhecer colegas e amigos, alguns deles que ainda hoje guardo comigo.
Gente para a vida! Tenho comigo que a praxe parte dos “doutores”, mas deve ser
definida pelos caloiros. O caloiro não tem, não deve, nem pode aceitar tudo.
Deve, isso sim, aproveitar o que de melhor ela tem para oferecer,
estabelecendo-lhe sempre limites. Se assim for é perfeito e essencial para
todos os que estão a começar a sua vida académica.
O
equilíbrio que a vida estudantil exige nem sempre está ao alcance de um
adolescente com dezassete, dezoito ou dezanove anos. Por mim falo. Faltou-me o
equilíbrio. As noites pareciam-me mais fáceis que os dias. Os bares
suportavam-se bem melhor que as aulas. As discotecas era sítios bem mais
agradáveis que a biblioteca. Tudo era melhor quando o sol se punha. Era melhor
porque eu me desequilibrei. Sozinho numa cidade grande, que tanto tinha para me
oferecer e eu sem capacidade para lhe dizer não. O tempo passou e eu nem conta
dei. Esqueci-me dos livros e das aulas. Perdi a noção da realidade, do que era
importante e, isso é o mais importante, perdi a noção de que há tempo para
tudo.
Esta é
uma nota que merece um parágrafo. Há tempo para tudo. Há tempo para as aulas,
há tempo para estudar, há tempo para os amigos, há tempo para as jantaradas, há
tempo para os copos e há tempo para as noitadas. Só de pensar que em maio
estava de férias e só voltava em setembro ou outubro. Três ou quatro meses de
férias. É muito tempo de boa vida! E para estudar são apenas duas alturas do
ano, três no máximo, vá, se a coisa correr mal.
Ser
universitário é atingir o ponto alto de uma carreira, a de estudante. É ir mais
além nos estudos. É tocar na ponta da pirâmide académica. É um tempo que deve ser
sentido e vivido, passa num instante e deixa saudades, acreditem. Aproveitem a
praxe, selecionem os amigos, cresçam enquanto seres “independentes”, porque nas
universidades os encarregados de educação não assinam folhas, e organizem o
vosso tempo. Formem-se enquanto alunos, mas não se esqueçam de se formarem
enquanto seres humanos.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Everest
Tinha que ser bom. É baseado em factos reais. E é mesmo bom!
As paisagens e a sonoridade sugerem cinema. Em casa não vai ser a mesma coisa.
Vejam e façam por entender o coração de cada um dos intervenientes. É esse o truque.
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