
escrevo-te como portista, como adepto de futebol e na pele de alguém que se sente traído.
Quero dizer-te que quando as palavras nada valem, as pessoas que as proferem valem tanto como elas. Esta é uma verdade que está um pouco acima das absolutas.
Há uns anos atrás, não há muitos, a palavra de um homem valia mais que uma escritura, hoje vale o mesmo, os homens é que são cada vez menos.
Quando apareceste deste a entender que eras um homem, de idade tenra, mas um homem. Criaste ilusões, fabricaste sonhos e deste-nos uma realidade mágica. Numa só época deste-nos tudo aquilo que queríamos, bateste recordes, ofereceste-nos o título na casa do nosso maior rival, goleaste-o, foste a casa dele buscar o bilhete para o Jamor quando ele já estava pronto a arrancar para lá, passeamos classe pela Europa e trouxeste de Dublin mais um título europeu, acabaste um campeonato sem qualquer derrota, fizeste acreditar que cada jogo era uma vitória, para nós e contigo deixou de haver impossíveis, os jogadores massacravam quem lhes aparecia à frente, parecia que tínham super poderes. Tudo isto é mérito teu André. Teu e dos jogadores. Mas lembra-te que a estrutura que não se vê foi aquela que te deu condições para tudo isso. Não acredito que conseguisses o mesmo num dos rivais. Desculpa, mas não acredito.
O teu valor é para mim indiscutível, acho-te um fora de série, considero-te um treinador de topo, penso que em breve estarás no topo do futebol europeu e mundial, não vejo grandes limites para ti. Tens tudo o que eu aprecio num treinador. Tudo ou quase tudo.
Aos homens não lhes basta capacidade de trabalho, aos homens não lhes basta sucesso profissional, aos homens exige-se palavra e honestidade.
Tu és um profissional fantástico, mas um homem pequeno. Tens o valor de cada uma das palavras que proferiste enquanto estavas sentado naquela que tu dizias que era a tua cadeira de sonho. Mentiste-nos André. Traíste-nos e isso nós não perdoamos a ninguém.
Passaste doze meses a gritar ao mundo "estou na minha cadeira de sonho", "daqui não saio e daqui ninguém me tira", "agora que cheguei à minha cadeira de sonho dinheiro nenhum me faz abdicar dela", passaste doze meses a fazer de nós portistas seres orgulhosos porque o nosso treinador era dos nossos, era como nós, amava o clube e nada o tiraria dali. Foste tu que criaste em nós essa ideia. Em nós, nos jogadores, nos funcionários do clube, nos directores e no nosso presidente. Foste tu que fizeste com que o nosso presidente andasse na praça pública a dizer que tu eras tão portista como ele, que eras inegociável, mais, foste tu que fizeste com que ele dissesse que nem que pagassem a tua cláusula tu irias sair porque tu não querias sair, porque tu estavas na cadeira com que sempre sonhaste.
E tu que fizeste André?
Aceitaste a primeira oferta. Disseste que sim à primeira equipa capaz de pagar a tua cláusula. Viraste-nos as costas e nem um adeus. Não foste homem sequer para olhar nos olhos de quem fez de ti o que és hoje. Foste de um tamanho reduzido. Mandaste um fax. Um fax André.
Não te criticamos por ires, não te julgamos por quereres receber cinco milhões por ano, não te censuramos por quereres ter um presidente capaz de comprar qualquer jogador, não achamos mal tu quereres a tua reforma com tão pouca idade. Não André. Nada disso.
Nós não gostamos é de mercenários disfarçados de portistas. Porque uma coisa é seres mercenário outra coisa é seres um dos nossos. Viveste um ano na pele de portista, agora, aconteça o que acontecer, vais viver o resto da vida na pele de um mercenário.
Falhaste André. Devias ter sido honesto. Nenhum de nós merecia isto. Nenhum!!
Daqui para a frente faz como fazem todos, "se for bom para mim e para o clube eu saio", e assim evitas a capa de mercenário e de traidor. Daqui para a frente sempre que quiseres rescindir contrato com quem te paga, dá a cara, olha nos olhos de quem te dá o vencimento e diz-lhe que queres ir embora. Faxes mandam os covadres.
Se até há uns dias eras um símbolo do clube e um homem que ficaria na história, daqui para a frente asseguro-te que não passarás de um número. Foste mais um André.
Contigo aprendi que só os adeptos podem jurar amor eterno ao clube, só eles. Por tua causa deixei de acreditar em amores incondicionais do futebol. Graças a ti vou desconfiar de cada um dos que jure amor ao meu clube.
Na cadeira de sonho estamos nós, adeptos. A nós ninguém nos compra. Nós não trocamos o FC Porto por nada deste mundo. Nós somos portistas. Só nós. Tu não André.
Não é portista quem quer, só é portista quem pode. Ser portista é uma benção que não se pode partilhar. Aponta estas duas frases no teu bloco de notas.
Agradecemos o que nos deste, pena que tu não saibas agradecer tudo aquilo que nós e o clube te demos a ti.