A crise, de há uns tempos para cá, virou moda.
Todos se queixavam dela, ricos e pobres, e todos comentavam a dita cuja.
Os dias foram passando e as pessoas viviam felizes com a nova moda. Os restaurantes cheios, as discotecas cheias, os cafés cheios e os shoppings cheios eram algumas das imagens da crise.
Os portugueses choravam-se, tal como se choram, por algo que efectivamente ainda não se sente, ou melhor, pode até já se ter sentido, mas foi só uma brisa, os ventos fortes estão para chegar.
Sempre que alguém me vinha com a conversa da crise eu perguntava se essa pessoa já a tinha sentido e não houve uma alma que me dissesse que sim. Nem podia. As vidas continuaram as mesmas, ou praticamente as mesmas, isto porque ninguém deixou de fazer o que quer que seja.
Ontem o país entrou em choque e eu não sei bem porquê. Pensavam que isto das medidas de austeridade era uma brincadeira? Se pensavam sai uma salva de palmas para vós.
Mas tenham calma, vai-se continuar a discutir e nos próximos dias vai ser uma algazarra dos diabos em tudo que é sitio, virtual, claro, porque neste país só se sai à rua para o que convém a cada um de nós e não para o que convém a todos nós. Tenho até impressão que a palavra união já não existe no dicionário português.
Como é que agora o povo se revolta? Como é? Cria grupos no facebook, manda postas de pescada nas páginas virtuais da imprensa e faz umas imagens a gozar com o estado do país. É assim que o povo moderno se revolta.
Sabem o que vos digo? Ainda bem que em 1974 não havia internet em Portugal!!
Estas medidas de austeridade podem pecar em muita coisa, que acredito que pequem, mas a maior falha é fazer das gentes que trabalham para administração pública os escravos que vão erguer o país. Que é isto? Então o país está mal e em vez de ajudarmos todos, uns ajudam e outros vêem ajudar? Não consigo entender, desculpem, mas não consigo. Por acaso os portugueses que entram para o sector privado passam a ser espanhóis, é?
Já sei, já sei, o sector privado vai trabalhar mais meia hora. Muito bom. Assim fico mais sossegado. Essa meia hora vai impulsionar de tal maneira a economia portuguesa que em breve temos a Angela Merkl de joelhos a pedir dinheiro ao Passos Coelho.
Bonito era pegar nas tabelas, nas suas respectivas taxas e aplicá-las ao que cada um desconta, seja do sector público ou privado, assim estaríamos todos a remar para o mesmo lado. Isso sim era bonito de se ver. Pelo menos para quem ainda acredita que um povo é um conjunto de pessoas que lutam pelo bem estar da sua sociedade e do seu país.
Posso estar errado, na volta nem devia abrir o bico sobre isto, mas porra, é incrível que se viva num país onde as pessoas fiquem chocadas por termos que lutar pelo bem da nação e mais incrível é ver o povo calar-se perante esta discriminação de sectores a céu aberto.
E façam o favor de não me envolver em bandeiras políticas que eu passo bem sem elas.
Para finalizar e para vos informar deixo-vos aqui um trabalho do jornal Expresso. Deveras interessante.
Sem comentários:
Enviar um comentário