segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Geração anti-funerais

Venho agora de um funeral.
Morreu a mãe de alguém que é já um simbolo da aldeia onde vivo.
Esse alguém tem uma deficiência mental, mas não é nulo, bem pelo contrário, é alguém activo, que conhece toda a gente, que sabe quem lhe faz bem e quem lhe faz mal, que, mesmo não parecendo, tem sentimentos.
Ele sabe o que se passou hoje e sabe que a sua vida perdeu a pessoa mais importante.
As lágrimas que hoje perdia à saída da igreja demonstram bem a dor que ele carrega e que a mim me deixa uma duvida muito grande: como será que ele vai lidar com isto?
Fez-me muita confusão ver o Abel a chorar, isto porque o conheço desde que me lembro de ser gente e sempre o vi com um sorriso nos lábios. Hoje vi-o chorar. Tenho a certeza quase absoluta que foi a primeira e a última vez que vi isso acontecer, mas vi e custou-me.
Não sou familiar directo, nem ninguém próximo da falecida, mas o Abel faz já parte do meu dia a dia como habitante desta terra e senti que ele, mais do que muitos, merecia a minha presença no funeral da sua mãe.
Já muitas vezes reparei no que agora vos vou falar, mas hoje reparei com mais força ainda.
Vou a muitos funerais e encontrar lá um jovem é mentira.
Estou convencido que faço parte da geração anti-funerais.
A velha pergunta: "Vais ao funeral?"
A velha resposta: "Não. Não gosto de funerais!"
A eterna certeza: ninguém gosta de funerais.
É triste e tenho pena de fazer parte desta geração.
Se isto continua assim quando um dia morrerem os nossos pais teremos que carregar o caixão sozinhos ou então pagar a estranhos para o fazerem, já que os nossos amigos não gostam de ir a funerais.
Custa, de divirtido não tem nada, mas acreditem que as pessoas que perdem os entes queridos gostam de nos ver por lá.
Imaginem no dia em que perderem alguém encontrarem uma igreja e um cemitério vazios.
É uma dor quase tão grande como a da perda.

1 comentário:

  1. tal como disseste "ninguem gosta de funerais", é verdade.

    Eu pessoalmente compareço nos funerais de pessoas a quem me sinto ligadas, amigos, familiares, etc. Julgo que no caso de hoje não tinha qualquer razão que me levasse até ao funeral e como sempre relembrar alguns capitulos passados. Sim, conheço o abel, como também conheço muita gente e não me vejo numa posição de ir a um funeral de familiares deles, talvez deles sim. Aí a coisa já muda.

    ResponderEliminar