Ao Eusébio nunca o vi jogar. Vi frames deles, na televisão e na internet. Nada mais.
Sei que levava o pé até ao fim, não parava na bola, e o joelho, esse, quase batia no peito. Sei que tinha muita força, que levava tudo à frente e um pontapé dele era mais que meio golo. Sei que marcou quatro golos à Coreia do Norte no mundial de 66, quando a nossa selecção perdia por 3-0. Sei que foi um símbolo do nosso país e com ele o nome de Portugal foi mais além. Com ele, com a Amália e com Nossa Senhora de Fátima. Sei que ele deu tudo ao Benfica e depois andou a vaguear pelos Estados Unidos, pelo México, pelo Beira Mar, onde se recusou a rematar à baliza encarnada, e até pelo União de Tomar, vindo a terminar a carreira na terra do Tio Sam. Sei que o Eusébio estava esquecido pelo Benfica, foi o Luis Filipe Vieira que o devolveu aos benfiquistas. Sei, no fundo, o que qualquer apaixonado por futebol sabe. O essencial.
Tinha o Eusébio como pessoa humildade, pacata, no canto dele. Nunca viveu a fama, pelo menos aos meus olhos, como estrela de cinema, tal como vivem os jogadores de futebol de agora. A realidade era outra, é certo, e por isso mais valor lhe dou. Sem os meios que há hoje ele conseguiu chegar aos quatro cantos do mundo, com a camisola do clube e com a da selecção.
Quanto à morte desta figura do futebol, lamento-a. Não me chocou como a do Feher, é certo. Por tudo. O Eusébio tinha alguma idade, era uma pessoa doente e o Feher morreu jovem, quase adolescente, com transmissão em directo na televisão. É diferente, uma não se compara à outra.
O funeral do Pantera Negra, como lhe chamavam, foi aquilo que tinha que ser. Foi à rua quem quis. Seguiu o cortejo fúnebre quem achou que o devia fazer. Achei que o estádio dele podia e devia ter recebido mais gente para lhe dizer adeus. Achei que as televisões exageraram, quando o Benfica tem um canal que permitia, a quem quisesse, acompanhar tudo a par e passo. Achei que aqueles que eram realmente próximos do Eusébio não foram respeitados. Os de sangue e os amigos, os verdadeiros, como o Hilário, por exemplo. Este último nem quis aparecer nos meios de comunicação, como é normal em horas de dor. Quem sente dor não quer o protagonismo que a imprensa dá, quer é sossego, privacidade e um abraço quente. Os familiares, coitados, quase que não conseguiam chegar ao caixão, segundo li. E, quer se queira quer não, há coisas que devem ser respeitadas. E o sofrimento de quem vê partir alguém que ama é das coisas mais sagradas que existem.
A história dos cachecóis, serviu para duas coisas. Serviu para provar que os adeptos dos clubes rivais respeitavam o Eusébio e o seu Benfica; e serviu, também, para provar que há gente que não sabe estar, nem tão pouco viver. Devia ser um motivo de orgulho para os benfiquistas ver que a estátua do seu ídolo tinha cachecóis dos clubes rivais e de outros menos que tal. E se para uns acredito que tenha sido, para outros foi mais uma forma de mostrarem ao mundo que há gente que anda aqui só mesmo por andar. Quanto à retirada dos cachecóis, discordo. Deviam era ter arranjado forma de os preservar lá.
Eusébio da Silva Ferreira vai ser recordado como um homem humilde, sem grandes protagonismos, um benfiquista dos quatro costados e aquele que em tempos que não se previa levou a selecção nacional bem alto. Como ele também Luis Figo, embora deste eu não goste. Nunca gostei. Para mim é um vaidoso que se acha com o rei na barriga e, tal como fez no final do Suécia-Portugal, ignora as suas raízes. Ao Cristiano Ronaldo, outro emblema português no mundo, dou-lhe mais valor. Cria tantos amores como ódios, tem um feitio muito dele, mas não se esquece das suas origens, carrega a sua família para todo o lado e a sua ilha, a Madeira, nunca é esquecida. Na selecção tem vindo a melhorar e foi ele, a verdade é só esta, que carregou Portugal às costas até ao Brasil, para o Mundial deste ano. O Mourinho, outro que levanta bem alto as nossas cores, já me agradou mais. A maneira de ser e de estar dele acaba por cansar e acho que neste momento a sua imagem está desgastada. Atenção, com isto não lhe retiro qualquer valor, até porque nem eu, nem ninguém, o poderia fazer. O homem é mestre no que faz. Noto que esta época tem andado mais recatado e acho que só faz bem. O certo é que estes quatro, todos do mundo da bola, fizeram com que Portugal fosse conhecido em todos os pontos do mundo, à custa do futebol, é verdade, mas deram prestigio ao nome do nosso país. De todos eles Eusébio terá sido o que mais se chegava ao povo, fruto das suas origens, do que viveu e dos tempos que eram outros, mas acredito que seja por isso mesmo que tenha merecido a consideração e os lamentos de todos, mesmo dos eternos rivais e, diga-se, foram mais do que justos.
O Mário Soares, e isto a propósito das suas declarações, está senil. Completamente senil. O que ele disse em relação ao Eusébio demonstra uma falta de respeito tremenda e lamento que os órgãos de comunicação social ainda o procurem para obterem testemunhos do género deste último. Acredito que isso dê audiências, partilhas no facebook e piadas a todos os níveis, mas acho, muito sinceramente, de muito mau gosto tornarem públicas palavras tão graves como as que foram ditas. Este senhor tem mais é que ser ignorado. Apenas e só isso. Deixem-no no canto dele, a acabar em paz.
Por fim quero dizer-vos que acredito que o nome Eusébio vire uma marca e/ou um negócio. Eu lamento e ninguém devia contribuir para isso.
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