No geral sei que vivo num país de ladrões; sei que anda muito homem grande a mamar naquilo que é de dez milhões de pessoas; e sei que para muitos o nome deste país significa subsidio e/ou reforma.
No desporto sei que vivemos para além das possibilidades; sei que para muitos as quinas são sinónimo de protagonismo e mediatismo; e sei que a imprensa manda neste país e na cabeça de quem nele vive.
Acredito que noutros países a mecânica seja a mesma, mas o que se passa na casa do vizinho a mim nada me diz e o mal dos outros não me traz bem nenhum.
Eu quero que Portugal ganhe sempre. Seja no que for. Tanto pode ser no futebol como no polo aquático. Durante o Europeu da Ucrânia e da Polónia, que ontem terminou para nós, fui adepto incondicional. Assumo que depois de ver a nossa sofrida, como sempre, fase de qualificação e os dois amigáveis que antecederam a fase de grupos do Campeonato da Europa cheguei a temer uma muito má prestação lusa nas terras do leste da Europa. Eu estava errado e ainda bem.
Fomos grandes, mas não fomos enormes, fomos bons, mas não fomos muito bons. Esta é uma realidade que não podemos esconder. Fomos guerreiros, fomos lutadores, fomos unidos, fomos um grupo coeso, tivemos coração, tivemos alma e tivemos muita vontade. Isto são verdades que ninguém pode apagar.
Na fase de grupos perdemos com uma Alemanha que é uma equipa muito equilibrada. Perdemos como podíamos ter ganho ou empatado. Os alemães tiveram a sorte do jogo. Com a Dinamarca garantimos os três pontos e sofremos sem necessidade. Os dinamarqueses não mereciam sequer ter sonhado. No último jogo do grupo vencemos uma Holanda que andou a rastejar durante toda a sua participação. Não deixa de ser bom vencer a laranja mecânica, é sempre muito bom, mas o certo é que de bom só tinham mesmo o nome e algumas individualidades. Desta fase de grupos ressalta a união de grupo e a força mental do mesmo. Demos a volta a dois resultados negativos para nós e só uma equipa com um coração enorme consegue isso. Este é, para mim, um dos maiores méritos do Paulo Bento.
A República Checa atravessou-se no nosso caminho nos quartos de final, a lembrar, desde logo, o chapéu de Karel Poborsky a Vitor Baía, em 1996. Felizmente não houve surpresas e Portugal dominou por completo o jogo e venceu com toda a justiça.
Ontem, nas meias finais, houve duelo ibérico. Portugal defrontou a Espanha, actual campeã do mundo e da europa, num jogo que se adivinhava difícil para ambas as partes. Foi um jogo disputado, mas de bonito não teve muito. Foi, no fundo, o que se previa. Os espanhóis venceram na lotaria dos penaltys. É uma questão de sorte, é verdade, mas acabou por vencer a equipa que mais fez por isso durante os cento e vinte minutos em que bola correu pela relva. Portugal fez uma grande primeira parte, pressionou alto, coisa que incomoda o futebol dos nossos vizinhos, mas aquela pressão não ia durar noventa e muito menos cento e vinte minutos. A segunda parte e principalmente o prolongamento pertenceram à Espanha. Depois que Navas, Pedro e Fabregas entraram no jogo, numa altura em que o cansaço lusitano já era muito, nós limitamo-nos a defender como podíamos e deixamos de ser tão organizados e tão pressionantes como fomos nos primeiros quarenta e cinco minutos. Certo é que o Iker Casillas não fez uma única defesa e o árbitro, desculpem-me os mal habituados, não teve qualquer influência no resultado. Ponto final.
Perdemos, paciência. O futebol é isto. Uns perdem outros ganham. Muito sinceramente, penso que Portugal foi eliminado pela equipa que vai erguer o troféu e, pelo que já se viu, com toda a justiça.
Em relação ao nosso seleccionador, o mister Paulo Bento, quero dar-lhe os meus parabéns. Foi capaz de fazer daquele lote de vinte e três jogadores uma família. Nem mesmo o pontapé de Quaresma em Miguel Lopes abanou essa estrutura. Foi capaz de criar uma equipa organizada e a praticar um bom futebol, do melhor que se tinha visto nos últimos anos.
Para além do positivo, teve, como é normal, pontos negativos.
As situações de Ricardo Carvalho e Bosingwa podiam ter sido melhor geridas, e se não ponho em causa o afastamento do central, penso que o lateral podia ter estado presente no Europeu e, não desfazendo o João Pereira, que bom que era para nós. Ainda em relação a estes dois, o treinador não tem que andar a comentar na imprensa casos de indisciplina vividos dentro do balneário. Que fale o presidente, que fale o vice presidente, mas nunca o treinador.
O discurso de Paulo Bento em relação a Hugo Viana não foi, de todo, correcto. O que ele disse antes e depois de o chamar não deve nem pode ser dito. Ficou-lhe mal.
O nosso seleccionador não soube gerir o banco. Usou o Custódio e o Varela, lançou o Rolando em dois jogos para queimar tempo e defender e foi experimentando os avançados. Não pode ser. Eu sei que o banco não era de luxo, mas podia e devia ser mais espremido. Foi tudo muito previsível e tudo muito igual nos cinco jogos.
O Nani fez contra a Espanha o pior jogo do Europeu e tinha que sair. Sempre que lhe entregaram uma bola ele andou com ela até a perder. Não saiu e não se entende porquê. Sinceramente acho que o Nani quer um protagonismo que nunca vai ter e vai acabar por pagar por isso. Em Manchester não vai tardar.
O Nelson Oliveira foi lançado às feras, sem experiência nenhuma, e viu-se que, como é normal, ainda tem um longo caminho para percorrer. Porque não tirar o Hugo Almeida, meter o Ronaldo no meio e entrar o Quaresma para a esquerda?
Ontem, nos penaltys, nunca podia ter deixado o Cristiano Ronaldo para o fim. Não o digo porque perdemos, digo-o porque é o lógico. O Xabi Alonso é o marcador oficial dos penaltys espanhóis e foi, como se viu, o primeiro a marcar. Por acaso falhou, mas foi o primeiro. Se o Ronaldo é o nosso marcador de serviço tem que marcar um dos três primeiros penaltys.
Todos os jogadores fizeram, no cômputo geral, um bom Campeonato da Europa, mas alguns merecem destaque. O Pepe foi um monstro. Ele não perdeu um único lance. É para mim o melhor central deste campeonato e fez, com Bruno Alves, a melhor dupla de centrais da competição . O João Moutinho é uma máquina. Que ele não sabe jogar mal já todos nós sabemos, mas este Europeu ele pode guardá-lo em DVD e vê-lo de peito feito. Foi o nosso pequeno maestro. O Fábio Coentrão voltou ao que era. Muito bem a defender e sempre disponível para atacar. Este sim, é o verdadeiro Coentrão. Estes três foram para mim os melhores jogadores de Portugal ao longo de todo o campeonato.
Depois temos o Cristiano Ronaldo que fez dois grandes jogos frente à Holanda e à Dinamarca e ponto final. Como atleta é um fora de série, é um jogador fantástico e vai, com toda a certeza, ficar na história do futebol mundial. Sou apreciador do Cristiano enquanto jogador, porém tem uma coisa que a mim me irrita profundamente. Detesto o teatro que ele faz para o público que está em casa e no estádio. Dispensava tão bem, mas tão bem, as fitas dele.
Para além disso irrita-me o facto da imprensa fazer de conta que a selecção portuguesa é o Ronaldo e mais vinte e dois cones. Os estrangeiros eu até posso entender, agora os jornalistas portugueses terem a mesma atitude é uma grande falta de respeito para com os restantes jogadores.
E outra coisa, por que raio ninguém pode criticar o capitão da selecção portuguesa? Podemos criticar os outros e ele não porquê? O futebol é isto mesmo. O Cardozo marca muitos golos no Benfica e os benfiquistas não gostam dele. O Hulk carrega o FC Porto às costas e os portistas a cada passo assobiam-no. E quê? Tomara eu ganhar milhões e que me assobiassem todos os dias. Já não há pachorra para este mimo parvo.
Lembro-me de ver Europeus e Mundiais sem Portugal lá. Foram muitos os que passamos em claro. Hoje isso é impensável, mas há uns anos não era. Lembro-me bem de 1996, voltamos a um Europeu passados doze anos. Foi uma festa! A partir de dois mil estivemos sempre presentes e com isto tem que mudar a nossa mentalidade. Quando íamos de dez em dez anos a presença quase que bastava e passar o grupo era motivo de festa. Hoje não pode ser assim. Temos que ter mentalidade ganhadora. Temos jogadores em todos, ou quase todos, os grandes clubes europeus, somos presença regular nas fases finais e a nossa ambição tem que condizer com este currículo. O quase, o se e o mas a nós já não nos podem bastar. Eu gosto é de ganhar. Eu e todos. Isso sim sabe bem. Dos fracos não reza a história e na história do futebol só entra quem vence, não quem esteve quase a vencer. E, por favor, não me venham com a conversa do cair de pé porque eu não conheço ninguém que caia de pé. Isso é impossível. Caímos e ponto final. É triste, dói, mas é a nossa realidade.
Tenho orgulho em ser português, tenho orgulho desta selecção, mas quero mais, eu quero taças, eu quero festejar muito e quero ficar rouco de tanto gritar pelo nome do meu país.
Apesar do amargo de boca, obrigado, rapazes.
Excelente texto, gostei imenso do que li e concordo plenamente, e algumas dessas palvras foram minhas no fim do jogo de ontem.
ResponderEliminareste texto tem tudo, o que se pode ser dito da prestaçao da nossa seleçao. E presisamos imenso de titulos e de festas para dar alegria a este povo, nao podem ser os os outros a ganhar nos tambem queremos festa e festejar a grande...
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