De regresso à vida

Tudo começou em Outubro de 2010. Acabou hoje. Dez meses depois.

Viagens quase diárias. Vila Real - Régua - Vila Real - Porto - Vila Real.

Mais de duzentos e cinquenta quilómetros por dia. Com frio, com calor, com sol, com chuva, com neve, com nevoeiro, com vento e, acima de tudo, com muitas obras na estrada. Cheguei a demorar quatro horas para fazer cem quilómetros.

Lanchava a caminho do Porto e jantava a caminho de casa. O meu carro foi, durante dez meses, a minha casa. Foram cerca de cinquenta mil quilómetros de muita cumplicidade. Eu e o carro fomos um só.

O escritório, a pós graduação e a formação na Ordem dos Advogados consumiram por completo a minha vida. Muitos foram os dias em que me esqueci de quem me rodeia, mais, houve até dias em que me esqueci de mim mesmo. Palavra de honra.

Falemos agora destes últimos cinco dias.

Esta semana, que hoje termina, ficará para sempre gravada na minha memória. Foi, sem dúvida alguma, a pior semana académica - chamemos-lhe assim - que tive. Foram seis exames em três dias. Segunda, quarta e sexta. Duas horas e trinta de manhã e duas horas e trinta à tarde. Mais de cinquenta páginas escritas. A Ordem dos Advogados é muito selectiva, não aceita que qualquer um lhe pague as quotas. Há que aguentar. A pressão foi, durante toda a santa semana, do tamanho dos Himalaias, mas hoje sou um homem livre. Sem sensibilidade nos dedos que seguraram a caneta, mas livre. A liberdade é condicional, mas tem o sabor da outra.

Férias, férias, férias só em Agosto. A meio dele. Daqui lá ando só com o escritório às costas, mas com esse ando eu feliz da vida.

Vou ali fora apanhar ar, ver gente, dar um beijo na liberdade e um xi coração na vida. Não demoro. É só mesmo o tempo de ir e vir.