quinta-feira, 13 de março de 2014

Religião e dinheiro

Ontem, enquanto esperava numa sala que é feita para isso mesmo, ouvia um senhor que falava de pé para uma senhora, mas que no fundo dirigia-se a todos os que ali estavam.
Se inicialmente a conversa passava pela saúde e por um incontável número de conselhos que ele tinha para partilhar, o discurso acabou, não sei como nem porquê, na igreja. Dizia o que discursava que era católico, mas não ia à igreja. Já foi de ir, mas agora não vai. Pelos vistos o padre que o levava à igreja foi embora e este que lá está agora, um que "apareceu com um renault 5 a cair de podre e passados uns meses comprou um carro de trinta mil euros", não o convence. Nem a ele, nem a outros como ele. Na boca deste senhor o padre da freguesia dele, que eu não sei qual é, é "um ladrão, um chulo, só pensa em dinheiro". No fundo, e resumindo, o que se ouviu foram uma série de justificações para os adjectivos escolhidos para qualificar o padre em questão. E, verdade seja dita, a serem verdade, tenho que concordar com o homem.
Até aqui, tudo normal. Infelizmente. Não é a primeira pessoa, nem será a última a ter esta opinião. Eu mesmo concordo com ele, embora, como em tudo, não se possa generalizar. A verdade é que vivemos numa época em que a religião e a igreja viraram uma máquina de fazer dinheiro. Tudo o que acontece dentro da casa do Senhor passou a ter um preço. Batizados, casamentos, funerais, missas de sétimo dia, missas de procissões. Tudo! Hoje em dia os padres cobram o que querem e pelos vistos não há quem termine com isto ou, pelo menos, quem lhes crie limites. Por exemplo, a propósito da época que se avizinha, a Páscoa, anda já um alarido enorme. Muitos são os párocos que exigem, no mínimo, "um dia de trabalho" como côngrua, que é aquilo que nós deixamos no envelope ou no pratinho e que quem nos leva a cruz a casa no domingo de Páscoa retira, põe num saco e entrega ao senhor padre no fim do dia. Outro roubo, na minha maneira de ver. Cada um dá o que pode e, acima de tudo, o que quer. Acerca disto, o discursante da sala de espera disse, e achei-lhe piada, que ao padre até lhe dá uma semana de trabalho, é preciso é que ele tenha vontade de trabalhar.
Adiante.
Já a conversa ia avançada quando a senhora que o ouvia lhe pediu calma nas palavras. A resposta do homem que estava de pé prontamente se fez ouvir. "Sabe, na minha vida tive um azar. Morreu-me um filho com vinte e dois anos numa cama do hospital. Levaram-no para a minha aldeia e ele teve que ir para a igreja enquanto preparávamos a casa para o receber. Esteve uma hora e meia na igreja. Quando fui lá buscar o meu filho o padre disse-me que tinha pagar quinze euros antes de levar o corpo. Quinze euros por ter o meu filho morto dentro da igreja durante uma hora e meia. Paguei-lhe. Tenho recibo lá em casa para mostrar às beatas que duvidam de mim."
A ouvir isto entendi, como qualquer um entende, a revolta deste pai enlutado e o sabor amargo de todas as palavras que ele dirige àquele padre. Com toda a razão do mundo, diga-se.
Que padre pede quinze euros a um pai para levar o corpo do seu filho? Que ser humano é este? Que sensibilidade tem esta pessoa? O homem disse-o e eu repito-o: um ladrão, um chulo, só pensa em dinheiro. É isto e muito mais. Muito muito mais!

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