quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Emigrantes

Respeito todos aqueles que saem do seu país para lutar por uma vida melhor. Admiro a coragem de cada um dos emigrantes. Valorizo os que saem daqui com os bolsos cheios de nada e voltam com a missão cumprida. Aplaudo os que se sacrificam durante anos a fio para poderem dar aos seus aquilo que eles próprios nunca tiveram. Infelizmente e porque a vida a isso os obrigou tenho muitos amigos emigrantes e pelo que contam não é fácil estar num país que não é o nosso. Seja na Suiça, na França, na Espanha, na Alemanha, na Bélgica, no Luxemburgo, em Angola ou noutro qualquer.
Podem não acreditar, mas muitas são as vezes em que olho para eles, enquanto cá estão, e tento imaginar que vidas serão aquelas fora das nossas fronteiras. As horas a que acordam, em que trabalham, o que comem, como vivem.
Ser emigrante é inspirar onze meses e expirar um. A maior parte deles deixa de ter vida enquanto está em território alheio e quando regressa às origens sente necessidade de mostrar o que por lá conseguiu e por vezes mostra até um pouco mais que isso. Os que mostram o que por lá conseguiram merecem a minha atenção, muito sinceramente. Vejo com atenção os troféus que eles de lá trazem, seja um carro ou um telemóvel. Os que querem mostrar mais do que o que têm só merecem a minha indignação. Desculpem-me os outros, mas não há coisa pior que um emigrante convencido que é mais do que quem cá está todo o ano. Ainda ontem, e a propósito destes últimos, presenciei uma cena que me revoltou dos pés à cabeça. Um casal e dois filhos. Quem falava era a mulher, ele, de peito feito, só olhava, os filhos, ambos com uma camisola de um clube português iam-se entretendo a ajudar a mãe no triste espectáculo da qual era protagonista. O Intermarché como cenário e a charcutaria como pano de fundo. A senhora, ignorando um aglomerado de pessoas que esperava pelo fim do seu show para tratar de vida, ia pedindo fatias dos vários chouriços, chourições, fiambres e, como ela dizia, "mortandelas", isto porque ela, o marido e cada um dos filhos tinham que provar cada peça para saber qual haviam de comprar. É óbvio que lancharam ali e atrasaram a vida a todos os que esperavam pela sua vez. É lamentável estas grandes superfícies comerciais não terem pão e bebidas para quem vem de propósito da Suiça para lanchar por cá. A senhora dizia, cheia de mania, "dê-me uma fatia pro meu home e outra pro meu Joel" e a empregada, coitada, ali a cortar de tudo um pouco para atender quem não merece. Desculpem, mas é verdade. Esta gente não merece ser atendida por ninguém. Quem quer brincar que brinque em casa, com os seus e não com quem quer e tem que trabalhar. Haja vergonha. A dada altura provou um chourição e disse: "caralho home, este é picante mas é bom", para depois se virar para o filho, quase com pena dele e cheia de manias, e dizer: "Joel este não é igual ao que comemos lá na Suiça" e quando perguntou ao filho mais velho que "mortandela" queria, ele disse "traz a melhorzinha que é para a cadela" e ela em vez de estender a mão na cara do filho, riu-se como se ele tivesse dito uma grande piada e ainda fez o favor de dizer à empregada: "já viu menina?! Levo a melhor para dar à cadela" e a menina, de cara cansada, ali permaneceu a ouvi-la, no fim de tudo, a dizer para ser ela, empregada, a escolher "o melhorzinho" e a cortar tudo o que ela mandava. Antes de pegar no que lhe embrulharam ainda perguntou se eram produtos portugueses, como se ela percebesse muito de enchidos. Enfim. A funcionária respirou de alivio e sorriu quando ela disse que não queria mais nada para além do pouco que levou. O que é normal, depois de terem provado tanta variedade pouca ou nenhuma seria a fome deles.
Este é o tipo de emigrantes que me revolta. Este é o tipo de emigrantes que mancha a imagem daqueles que regressam todos os anos a Portugal para estar com a família, os amigos e para descansar. Este é o tipo de emigrantes que como é pisado todo o ano se sente no direito de pisar quem cá está. Este é o tipo de emigrante que lá fora não come nem chouriço, nem chourição, nem fiambre e muito menos a porcaria da "mortandela" porque se comesse não tinha que as provar a todas.
O respeito só tem valor quando praticado por duas partes, caso contrário chama-se gozo. Aqui e em qualquer parte do mundo.

3 comentários:

  1. frederico de freitas2 de agosto de 2012 às 16:44

    Bem dito. É à pala desse tipo de emigrantes que o estereótipo foi construído e muitos acabam a levar por tabela, sem culpa. Lembra-me uma história presenciada por mim, em que 3 pedem um fino e perguntam até que horas o café está aberto, em francês. Quando a bebida chega, um deles ao beber é surpreendido pela frescura e diz em alto e bom português, f-+($+#que está fria.

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  2. Muitas vezes a culpa não é deles mas sim de quem lhes permite que hajam dessa forma porque "lá fora" e falo por experiência própria, isso não acontece. Aqui muita gente se cala pensando que por terem dinheiro (os que têm) são donos do mundo... Para mim não são emigrantes, são avecs ou camones...

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  3. Está uma família de emigrantes franceses numa praia em Portugal e um dos filhos começa a afogar-se, ao ver este cenário a mãe começa a gritar: Rien! Rien! Rien!

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