Esclarecimento

Alguém se sentou num monte de inveja e pegou numa covardia bem afiada para me dizer que o meu Natal não teve família; que a culpa disso era da minha mãe; que vamos - eu e os meus pais - no bom caminho; que eles - invejosos - agradecem por isso; que é bom ter a família toda reunida nesta quadra festiva; que eu não sabia como isso era bom.

Vamos por pontos. Quero que isto seja simples e por conseguinte, de fácil acesso a todas as mentes, mesmo as anónimas.

O meu Natal não teve família?

Engraçado, eu contei várias vezes e estavam lá todos. Podia, porventura, faltar alguém, mas não.

A culpa disso era da minha mãe?

Platão, esse sábio filósofo, disse que "quem não tem mãe, não tem família" e eu faço uma vénia daqui até ao seu túmulo. Eu tive sorte, admito, calhou-me a melhor do mundo.

Vamos - eu e os meus pais - no bom caminho?

Agradeço a indicação, mas há muito que essa certeza vive lá em casa.

Eles - invejosos - agradecem por isso?

Acredito. Se assim não fosse como sobreviveria a inveja deles?

É bom ter a família toda reunida nesta quadra festiva?

Confirmo. Senti isso no último Natal.

Eu não sabia como isso era bom?

É verdade, andei uns anos enganado, mas agora já está tudo nos seus devidos lugares.

Para quem não sabe a inveja é um sentimento de aversão ao que o outro tem e a própria pessoa não tem. Se tem cura ou não, isso já não sei. Espero, do fundo do coração, que sim.

A covardia é um comportamento que reflecte falta de coragem. Dizem que nasce com as pessoas, eu não sei, sou leigo nesta matéria da psicologia.

Há uns dias disse a quem é próximo de mim que nunca, jurei até pela minha saúde, padeci desse tão grande mal que é ser invejoso. Por quem quer que seja.

A coragem vive comigo, nunca me escondi atrás de nada nem de ninguém para mostrar o que sinto ou o que penso. Não sei é se nasceu comigo, não me lembro, já foi há vinte e sete anos. Entendam.

Há quem se revolte porque eu e os meus temos amigos de verdade, não dos que dão jeito ou fazem de conta, daqueles que nos seguram quando estamos a cair ou que nos levantam quando vamos ao tapete, daqueles que não querem nada em troca para além da amizade pura.

Um dia Jeocaz Lee Meddi disse que "amigo é mais que família, é uma empatia consentida, uma cumplicidade além dos laços sanguíneos. É uma escolha feliz de alguém que pusemos ao nosso lado para trilharmos a vida" e eu fico a pensar se ele não estaria a falar dos amigos que coabitam comigo e com os que me amam.

Outros há que ficam sentidos por nos verem construir uma base sólida para uma vida sonhada; agoniam-se porque vão observando ao longe que nós cumprimos todos os objectivos a que nos propomos; sofrem ao ver que nós não saímos do trilho do sucesso; e por muito que custe, a uns e a outros, saímos vencedores de todas as batalhas para as quais somos chamados.

Desculpem a minha felicidade e o meu sucesso. Desculpem o amor que tenho pelos meus pais. Desculpem a cumplicidade que partilho com todos os que me amam. Desculpem-me, acima de tudo, por vos deixar de fora deste meu mundo.

Sou feliz com os que tenho e a eles agradeço-lhes por tudo.