terça-feira, 17 de abril de 2012

O nada e o tudo


A bola de espelhos era a nossa lua. As luzes as nossas estrelas. O céu estava limpo, o nosso. Tu vagueavas por entre a multidão sem noção do que provocavas. Os meus olhos procuravam-te incessantemente. O meu corpo movimentava-se de forma desnorteada. Não havia maneira de passar perto de ti, de ficar junto, de provar o teu perfume, de admirar as tuas formas, de conhecer a tua dança.
Uma ponte humana uniu as duas margens dos nossos corpos, encostou uma vontade a um desinteresse e fez com que o início de tudo existisse. Eras tu como hoje, no teu canto, sem incomodar quem passava. Eras tu numa vida da qual eu queria fazer parte. Eras tu banal para ti e extraordinária para mim. Eras tu a ignorar a minha presença e eu a admirar a tua. Era eu ansioso sem saber o que dizer. Era eu tímido como só tu me deixas. Era eu na minha busca por ti. Era eu a dar o meu tudo e tu a não querer nada. Era eu que te queria tanto e tu que não me querias nada. Era eu sem ti.
O que hoje é um tudo já foi um nada. O que hoje são palavras já foram só olhares. O que hoje é um abraço já foi um apetite. O que hoje são beijos já foram desejos. O que hoje é cumplicidade já foi uma utopia. O que hoje é amor já foi desconhecimento.
Foi uma troca de palavras que quase não existiu. Foi um ignorar completo. Foi um não querer saber do tamanho do mundo. Foi um sai daqui gigante. Foi o que foi, mas foi o que me fez querer ainda mais.
Hoje não quero como sempre quis, hoje quero mais e amanhã sei que o que quero hoje não me chega. O meu quero-te não tem fim. O meu quero-te não tem limites. O meu quero-te sabe-me sempre a pouco. O meu quero-te será eterno.
É preciso ter o nada para saber quanto vale o tudo

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