quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ensino Superior

Lembro-me como se fosse hoje e já tantos anos passaram por cima daquele primeiro dia assustado. Não conhecia nada nem ninguém. Sozinho numa cidade que não era a minha. Longe do conforto da minha casa. Distante, tão distante, dos cuidados dos meus pais. Comigo só tinha uma certeza, o curso. Era aquele. Sempre foi. Direito!
Eu, ao contrário de muitos, queria ter ficado na minha terrinha, mesmo sabendo que isso não era sequer opção. Sempre fui pouco aventureiro. Não queria ruas, nem gentes que eu não conhecia. Obrigado a isso, lá fui, temeroso e de malas feitas para a cidade Invicta.
O caloiro atravessou os portões da universidade de olhos postos em tudo, tendo como principal objetivo passar despercebido. Coisa difícil para quem é novato. Devia sentir-se ao longe o cheiro de estreante, mesmo que este fosse de jornal dobrado, metido por baixo do braço, a dar um ar de homem adulto e batido. O sossego durou trinta minutos. Os “doutores” interpelaram-me e deram início à minha praxe. Bastante tranquila por sinal. Aceitei-a de braços abertos, usei-a para conhecer colegas e amigos, alguns deles que ainda hoje guardo comigo. Gente para a vida! Tenho comigo que a praxe parte dos “doutores”, mas deve ser definida pelos caloiros. O caloiro não tem, não deve, nem pode aceitar tudo. Deve, isso sim, aproveitar o que de melhor ela tem para oferecer, estabelecendo-lhe sempre limites. Se assim for é perfeito e essencial para todos os que estão a começar a sua vida académica.
O equilíbrio que a vida estudantil exige nem sempre está ao alcance de um adolescente com dezassete, dezoito ou dezanove anos. Por mim falo. Faltou-me o equilíbrio. As noites pareciam-me mais fáceis que os dias. Os bares suportavam-se bem melhor que as aulas. As discotecas era sítios bem mais agradáveis que a biblioteca. Tudo era melhor quando o sol se punha. Era melhor porque eu me desequilibrei. Sozinho numa cidade grande, que tanto tinha para me oferecer e eu sem capacidade para lhe dizer não. O tempo passou e eu nem conta dei. Esqueci-me dos livros e das aulas. Perdi a noção da realidade, do que era importante e, isso é o mais importante, perdi a noção de que há tempo para tudo.
Esta é uma nota que merece um parágrafo. Há tempo para tudo. Há tempo para as aulas, há tempo para estudar, há tempo para os amigos, há tempo para as jantaradas, há tempo para os copos e há tempo para as noitadas. Só de pensar que em maio estava de férias e só voltava em setembro ou outubro. Três ou quatro meses de férias. É muito tempo de boa vida! E para estudar são apenas duas alturas do ano, três no máximo, vá, se a coisa correr mal.
Ser universitário é atingir o ponto alto de uma carreira, a de estudante. É ir mais além nos estudos. É tocar na ponta da pirâmide académica. É um tempo que deve ser sentido e vivido, passa num instante e deixa saudades, acreditem. Aproveitem a praxe, selecionem os amigos, cresçam enquanto seres “independentes”, porque nas universidades os encarregados de educação não assinam folhas, e organizem o vosso tempo. Formem-se enquanto alunos, mas não se esqueçam de se formarem enquanto seres humanos.

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