sexta-feira, 16 de julho de 2010

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Aquelas palavras afiadas entraram no corpo dele como bisturis.
O bater daquela porta foi o som mais pesado que ele ouviu. Foi um adeus disfarçado de ruído.
Enquanto o pensamento dele escrevia uma história de amor perfeita, ela, de borracha em punho, apagara cada linha, cada palavra, cada letra.
Enquanto conduzia, com a chuva a bater-lhe no vidro, sentia o corpo a tremer, as lágrimas a cair e um não querer acreditar.
O que parecia um pedaço de sonho acabou por se transformar num pesadelo completo.
Conduziu até casa baralhando as ideias que queria organizar. Chegado ao destino, parou o trabalhar do motor e deixou-se domar pela inércia.
Depois de uma hora fora da realidade acabou por aceitar o pedido do corpo e levou-o para o interior da casa.
Acordado na dura realidade da rejeição e sem analgésico possível sentiu cada dor ao pormenor. Chorou até não conseguir mais. Bateu em tudo o que podia. Deixou a casa como tinha os pensamentos: do avesso.
Acabou por adormecer numa almofada molhada de água salgada. O cansaço da derrota pesa bem mais que o da vitória.
A claridade foi entrando bem devagar, desviando-se das cortinas e chegando até ele. Acordou de forma lenta, sem saber bem onde estava, era a sua primeira ressaca sentimental, faltavam-lhe ideias.
A água do banho acabou por despertar aquele corpo quase inanimado. A alma ganhou uma força que parecia perdida. As ideias foram ganhando uma forma desejada. As certezas foram-se solidificando.
Enquanto o relógio caminhava para a frente, como sempre caminha, ele decidiu que era ela que ele queria e ponto final. Acreditou que quem quer tem.
As fraquezas deram lugar às forças e o desanimo foi trocado pela crença.
Soltou-se um grito do seu pensar: "ela vai ser minha".

Continua...

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