quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O ruído de uma refeição

Comer em restaurantes tem como principal problema o facto de não podermos escolher quem perto de nós se senta.
Hoje dividi a mesa com quem queria e partilhei o espaço com quem não queria.
O senhor que se sentou a um metro de mim conseguiu emitir um infinito número de sons enquanto fazia desaparecer o seu almoço, isto sem contar que comentou, num tom elevado, cada noticia que deu na televisão. A sala espantada assistiu a isto e eu, como homem de sorte que sou, fui o que assisti de mais perto.
O almoço do senhor foram umas tripas, no fim comeu uma malga cheia de caldo verde e ele que não "queria tanto" ia engolindo a malga também, a determinado momento pensei que ele ia debruçar-se sobre a louça em causa e limpá-la com a própria língua. No fim, com os dentes todos ao ar livre, ainda disse ao empregado: "ainda ficou um bocado, mas não faz mal", a mim apeteceu-me mesmo mesmo dizer-lhe: "um bocado da malga, só se for".
As tripas foram comidas por sucção, se é que me faço entender, e no fim de cada sucção seguia-se um gemido de prazer como quem está a acasalar. Algo semelhante a um "aaaahhh". Estranho, mas real.
Com o caldo verde foi o mesmo teatro a cada colherada que enfiava.
Mais, ele também mamou o café por sucção e no fim lá mandou o seu "aaaahhh".
Imaginam quantas vezes o ouvi gemer? Duvido!
No fim, e para terminar a festa, aquele barulho de quem dá beijos ao ar, sabem? Aquele que serve, ou pelo menos muita gente acredita que sim, para tirar a carne que fica entre um dente e outro.
A sua refeição só foi interrompida para comentar o Orçamento de Estado com um "vão mas é trabalhar que o que não falta aí são vinhas" e opinou também sobre a derrota do Sporting de Braga ao afirmar que "não jogam um caralho, que se fodam".
E foi assim, com este senhor ao lado, que eu almocei.

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