sexta-feira, 14 de maio de 2010

Página 1

Ela no mundo dela sem saber dele e ele que só queria saber dela.
Quatro paredes assistiam a sentimentos desenhados por olhares.
Dois corpos sozinhos. Cada um em sua cadeira. Separados por metros curtos.
Ela distante. Pensava em coisas que só ela sabe. Em tudo menos nele.
Ele quase que lhe tocava em olhares, pensamentos e desejos. Esquecia o mundo e escolhia-a como dona dos seus pensamentos.
O copo da água que chegou fresca e aquecia com o tempo era a companhia dele. Pediu por pedir. Veio água como podia vir café ou sumo. O que ele queria não podia.
Ela olhava para o vidro lavado pela chuva. Observava as gotas que desciam devagar, à mesma velocidade que a vida dela andava. Devagar, mas com segurança e sem grandes aventuras.
Num instante ela vira-se e dá de caras com o destino. Sente o olhar dele, consegue perceber cada desejo daquela mente. Envergonhada reencaminha o olhar para o vidro molhado.
Ele que por momentos sentiu um friozinho na barriga voltou a cair na realidade. A que dói. A que lhe mostra que é a cadeira que o aconchega e que é o copo de água que lhe faz companhia. E ela ali tão perto.
A coragem chega com força e acerta-lhe no peito. Ele levanta-se e dirige-se a ela. Ainda a construir frases nervosas cai na sua frente. Ela olha para ele e vê a cara de um menino que é tão malandro como timido. Sorri. Ele mais envergonhado do que nunca pergunta-lhe se está sozinha. Ela segura o sorriso e dá-lhe a resposta que ele procurava. Perde o medo e senta-se.
Agora que só os centimetros os separam ele enrola o olhar e não consegue segurá-lo. Ao longe parecia bem mais fácil. A conversa arranca lenta, passa por momentos em que está parada. Ele acha que perdeu a oportunidade da vida dele e ela sorri ao sentir-lhe os pensamentos. Sorriso que lhe dá fé. Sorriso que lhe garante esperanças.
A conversa vai ganhando forma e solidez. Os sorrisos timidos dão lugar a gargalhadas confiantes. Tudo parece ter piada. O mundo permite-lhes privacidade e o pensamento de ambos elimina o que os rodeia. Agora é ele e ela. Nada mais.
Ambos têm propostas arquivadas em pensamentos. Falta coragem que as faça cair na mesa.

Continua...

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